O que é a TRIZ?

    A TRIZ surgiu a partir do trabalho de G. S. Altshuller, nascido em Tashkent, Rússia, em 15 de outubro de 1926 e falecido em Baku, Azerbaijão, em 24 de setembro de 1998. É a Altshuller que se deve o mérito pela criação da TRIZ Clássica. Iniciada nos anos 40, TRIZ é a sigla russa para (transcrito para o nosso alfabeto como Teória Rechénia Izobretátelskih Zadátchi) e significa Teoria da Resolução de Problemas Inventivos. De acordo com Altshuller, problemas inventivos são um tipo especial de problemas – aqueles que contém contradições. A sigla TRIZ somente surgiu nos anos 70 e acabou sendo adotada internacionalmente.

    Na definição de Savransky (2000): “TRIZ é uma metodologia sistemática, orientada ao ser humano, baseada em conhecimento, para a solução inventiva de problemas.” A seguir, vamos examinar as partes desta definição.

    A TRIZ é baseada em conhecimento porque:

    – contém heurísticas para a solução de problemas, cujas fontes originais de informações são patentes;
    – faz uso de efeitos descobertos nas ciências naturais e na engenharia para a solução de problemas;
    – orienta o levantamento e utilização de conhecimentos referentes ao domínio do problema específico a ser solucionado.

    A TRIZ é orientada ao ser humano porque suas heurísticas são para uso humano, não computacional. A TRIZ é especialmente eficaz na solução conceitual de problemas, na qual – pelo menos com a tecnologia atual – o computador não consegue competir com o cérebro humano.

    A TRIZ é sistemática porque:

    – contém métodos estruturados para orientar a solução de problemas;
    – considera a situação problemática, a solução e o processo de solução como sistemas.

    A TRIZ é voltada para a solução inventiva de problemas porque, embora tenha hoje aplicação nas mais diversas áreas do conhecimento (administração, publicidade, artes), a TRIZ nasceu na engenharia e o propósito inicial de seu criador era desenvolver um método para inventar.

    Além de defini-la como metodologia, é possível entender a TRIZ em níveis mais altos, como sendo uma filosofia, uma ciência ou como sendo o estudo da excelência ou em níveis mais baixos, como um conjunto de métodos para a formulação e resolução de problemas.

    O caráter filosófico da TRIZ consiste nos seguintes fundamentos:

    – idealidade, ou o conceito de que os sistemas (técnicos ou não) evoluem no sentido do aumento das funções úteis e da diminuição das funções inúteis e prejudiciais;
    – contradição, ou o conhecimento de que uma das formas mais comuns de evolução dos sistemas técnicos é a resolução de contradições que o sistema continha;
    – recursos, ou resolver o problema com o próprio problema (identificando e usando ativamente elementos da própria situação problemática para resolver o problema);
    – sistemática, que é a idéia de enxergar dentro de um contexto que envolve tempo, espaço e interações;
    – funcionalidade, que consiste na modelagem de elementos concretos das situações problemáticas e das soluções na forma mais abstrata de funções.

    Como ciência, a TRIZ vem se desenvolvendo mais recentemente, através de um interesse cada vez maior dos meios acadêmicos pela metodologia. Há diversas pesquisas em andamento envolvendo a organização da TRIZ como ciência e um número crescente de publicações relacionadas com a TRIZ em congressos e journals.

    A TRIZ como o estudo da excelência configura-se como a abstração, compilação e organização das melhores formas de resolver problemas na forma de estratégias e princípios. Isso aconteceu, primeiro, nas engenharias mais antigas (os primeiros estudos de Altshuller envolveram soluções da engenharia mecânica, civil, elétrica e química) e, atualmente, acontece em todas as áreas do conhecimento (publicidade, artes, pedagogia, administração, etc.).

    No nível da solução de problemas, a TRIZ oferece uma riqueza de ferramentas sem par em outras metodologias: matriz multitela, operador tempo-tamanho-custo, fantograma, modelagem com pequeninas pessoas espertas, método dos princípios inventivos, método da separação, análise de substância-campo, método das partículas, método da síntese energética, indicadores de efeitos, tendências da evolução dos sistemas técnicos são algumas das ferramentas da TRIZ.

    Por que utilizar a TRIZ?

    A TRIZ é uma metodologia estruturada para inovação. Usando-a, você não vai precisar de “gênios criativos” ou confiar somente nos processos intuitivos para solucionar seus problemas. Em poucas palavras, podemos dizer que o principal motivo para usar a TRIZ é que sai cada vez mais caro não utilizá-la. Para saber mais detalhes sobre isso, sugerimos ver a apresentação a seguir:

    Método dos princípios inventivos

    Um bom começo é iniciar o uso da TRIZ através do Método dos Princípios Inventivos (MPI). Embora não esteja na última versão da TRIZ desenvolvida por Altshuller, este é um método eficaz para a geração de idéias e, provavelmente, o método mais difundido. O artigo abaixo explica o método e contém exemplos de sua aplicação:
    DE CARVALHO, M. A. & BACK, N. Uso dos Conceitos Fundamentais da TRIZ e do Método dos Princípios Inventivos no Desenvolvimento de Produtos . Anais do III CBGDP. Florianópolis, 2001.
    Aqui, você pode encontrar a descrição dos parâmetros de engenharia, dos princípios inventivos e a matriz de contradições, para uso do MPI na prática:
    Parâmetros de engenharia e princípios inventivos
    Matriz de contradições

    Mais informações sobre TRIZ

    A TRIZ é muito mais do que o Método dos Princípios Inventivos. Ela consiste de uma base teórica e de instrumentos para a formulação e resolução de problemas.

    Na Internet

    Nos últimos anos, a quantidade de informação sobre TRIZ na internet cresceu enormemente. Há muitas coisas boas e outras nem tanto, como você mesmo pode verificar buscando “TRIZ” no Google, por exemplo. Seguem alguns links que podemos recomendar:
    TRIZ Journal – contém artigos os mais diversos, inclusive sobre aplicações da TRIZ em processos de negócio. Como não é uma publicação revisada por pares (peer reviewed), contém artigos de qualidade variável.

    Meu blog, http://www.marcodecarvalho.net/blog – informação sobre TRIZ com atualização mais frequente do que esta página.
    Em livros

    Seguem abaixo algumas recomendações.
    Altshuller, G. S. Innovation Algorithm. Worcester: Technical Innovation Center, 1999 (1a ed. russa, 1969).
    Além de criador da TRIZ, Altshuller era um premiado escritor de ficção científica na antiga URSS. Neste livro, Altshuller apresenta o status da TRIZ de 1969 no seu estilo “quase-ficcional”, o que torna o livro uma leitura agradável, ainda que técnica. Contém muitos exemplos e exercícios.

    Mann, D. Hands-On Systematic Innovation. London: Creax, 2001.
    Darrell Mann fez um excelente e extenso trabalho ao escrever este livro. Com o objetivo de oferecer “benefícios, não características”, o livro fornece um panorama completo da TRIZ. Também pode ser usado como um manual, para acessar informações sobre ferramentas específicas da TRIZ. Este livro está praticamente traduzido para o português e estamos à busca de editoras interessadas em publicar.

    Salamatov, Y. P. TRIZ: The Right Solution at the Right Time – A Guide to Innovative Problem Solving. Hattem: Insytec, 1999.
    Este livro apresenta um panorama geral da TRIZ e inclui muitos exercícios e exemplos de aplicação da TRIZ em áreas não tecnológicas, como, por exemplo, as artes. Também inclui uma parte referente ao Desenvolvimento da Personalidade Criativa (tema das últimas pesquisas de Altshuller). O estilo do autor lembra um pouco o estilo “quase-ficcional” de Altshuller. É uma leitura bastante agradável.
    Savransky, S. D. Engineering of Creativity: Introduction to TRIZ Methodology of Inventive Problem Solving. New York: CRC, 2000.
    O livro de Savransky foi o primeiro livro em inglês com uma abordagem científica da TRIZ. É uma obra acadêmica e sua leitura é árdua, mas, tem a vantagem de ser um livro muito completo, incluindo partes tradicionais da TRIZ e as pesquisas mais recentes.

    Terninko, J.; Zusman, A.; Zlotin, B. Systematic Innovation: An Introduction to TRIZ (Theory of Inventive Problem Solving). Boca Raton: St. Lucie Press, 1998.
    É um livro amigável e que faz o que promete: introduz a TRIZ e descreve todas as suas partes principais. Importante: inclui muitos exemplos.

    É claro que também não podemos deixar de citar nosso livro (em parceria com Tz-Chin Wei e Semyon D. Savransky):
    De Carvalho, M. A., Wei, T-C., Savransky, S. D. 121 Heuristics For Solving Problems. Morrisville: Lulu, 2003.
    Este é um livro mais específico que os anteriores e versa sobre uma parte da TRIZ conhecida como as 121 heurísticas. Estas heurísticas incluem os princípios inventivos, mas, não se limitam a estes. As 121 heurísticas foram compiladas pelo pesquisador russo A. I. Polovinkin, com base em patentes, literatura técnica e na experiência prática de uma grande quantidade de inventores, engenheiros e técnicos. O livro inclui mais de 400 exemplos de soluções ligadas às 121 heurísticas, que foram coletadas pelos autores nos bancos mundiais de patentes. A combinação das heurísticas com as soluções fornece ao leitor ferramentas para a solução de seus problemas, associadas a exemplos recentes de uso das mesmas.
    Adicionalmente, alguns posts no meu blog abordam a questão “quais os melhores livros para aprender TRIZ?”.